SERGIO RODRIGUES
Durante a infância, Sergio Rodrigues identificou-se com os trabalhos de marcenaria, artesanato e madeira, talvez por isso, entre todos os designers brasileiros, seja o mais profundamente apegado aos valores e materiais da terra. Como estudante da Faculdade Nacional de Arquitetura, anos mais tarde, acompanhou o desenvolvimento da arquitetura do Brasil, que era atrasada entre a obra arquitetônica e os equipamentos de interiores. Para compreender o porquê dessa defasagem, aprofundou-se em estudos sobre a evolução do mobiliário contemporâneo.
O desejo de conhecer um móvel rico em identidade nacional levou Sergio a desenhar, em 1957, uma de suas mais importantes obras: o sofá Mole, por causa do pedido de um amigo, o fotógrafo Otto Stupakoff, que, depois de um dia corrido de trabalho, desejava um estofado “esparramado” para descansar em seu próprio estúdio.
Em 1958, a loja de Sergio Rodrigues, Oca, organizou a exposição “Móveis como Objeto de Arte”, e a poltrona Mole foi criada para acompanhar o sofá, mas naquele momento, infelizmente, não foi bem recebida: “Os meus desenhos já eram considerados futuristas, aquilo não tinha sequer qualificação. Um pastelão de couro sobre aqueles paus era demais”, relatou Sergio. Entretanto, após um ano do lançamento, a Oca recebeu várias encomendas da poltrona, que, definitivamente, explodiu em vendas quando personalidades da época, como o empresário Roberto Marinho, começaram a decorar suas casas e iates com a Mole.
O caráter grosso, que incorporou muito bem o espírito da brasilidade, deu um destaque especial à poltrona na bienal Concorso Internazionale del Mobile, em 1961, na cidade de Cantù, Itália. A Mole obteve seu primeiro prêmio, – sob o nome de Sheriff – pelo modo autêntico de expressar regionalidade, como ficou claro na avaliação dos jurados: “[…] único modelo com características atuais, apesar da estrutura com tratamento convencional, não influenciado por modismos e absolutamente representativo da região de origem”.
Sergio Rodrigues também criou várias outras peças de impacto ao design brasileiro, como o banco Mocho, em 1954, que foi inspirado nos banquinhos em que as mulheres tiravam leite da vaca e, desta forma, homenageou a fazenda de Péricles Correa da Rocha, – um amigo de família – onde teve boas memórias da infância.
Em sua trajetória de arquiteto, artista e criador, Sergio Rodrigues construiu uma obra madura e vasta, continuando, de modo genuíno, a tradição dos grandes artesãos brasileiros da madeira e, ao mesmo tempo, transformando os padrões de uso e a identidade do mobiliário.